SoAMA – Abrindo novas portas para eventos cosplay

    A grande maioria de eventos “Cosplays” sempre manteve seu foco na cultura oriental. É o local onde se reúnem, em geral, fãs de mangá, gibis, anime, seriados de TV, filmes de Sci-Fi, ou seja, cultura nerd/geek. Em eventos assim existem as chamadas “salas temáticas”, onde um grupo de fãs aborda um tema relacionado a cultura pop que mais lhe agrada, podendo ser sobre seriados de televisão, K-Pop, J-Pop, Doramas (novelas japonesas), K-Dramas (novelas coreanas) e exibição de brinquedos colecionáveis. Cabe mencionar a presença de pontos de divulgação e venda da culinária oriental, constituindo um “caldeirão de cultura asiática”.

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Ok, mas onde se incluem as artes marciais nesse contexto?

Circulando nestes eventos percebe-se a ausência de qualquer forma de representação das artes marciais, considerando que é muito comum as pessoas admitirem que foram motivadas a treinar artes marciais, assistindo seriados japoneses como “Kikku no Oni” (Sawamu: o demolidor); Jaspion, Changeman, Ultraman, Spectreman. Também pode ser incluído nesta lista, filmes de kung fu estrelados por Bruce Lee, Jet Lí, Jackie Chan e Tony Jaa.

Prof Bruno - Hapkido & Taekwondo

   De fato, os grupos de artes marciais não encontram-se representados nesses eventos, a não ser para convites de apresentações que muitas vezes são canceladas, geralmente devido ao mau tempo. Com isso, considera-se a ideia de criar uma sala temática sobre artes marciais legitimas, apresentando informações livres de engano sobre as artes marciais, especialmente para pessoas leigas. Ainda mais, se tratando de um tipo de evento onde grande parte dos frequentadores são adolescentes que veem as artes marciais dentro do contexto de seus desenhos favoritos. Mas não só direcionado aos adolescentes; o público cosplay, de todas as idades, é motivado por desenhos, seriados e heróis inspirados ou inseridos na cultura oriental.

Desencontros informais

   Não que fosse por negligencia dos organizadores de eventos ou dos artistas marciais. Se por um lado os organizadores desconhecem o real valor de uma sala temática voltada para as artes marciais, do outro lado, os instrutores sequer imaginam qual a importância de aproximar estes frequentadores da cultura oriental em conhecer as artes marciais.

  Aos olhos do leigo, as artes marciais resumem-se apenas em pessoas mal-encaradas que lutam campeonatos de MMA, que quebram telhas e tijolos, e que todo o faixa preta é chamado de “mestre” ou “ninja”. Evidentemente, trata-se de um grande equivoco estimulado pelos veículos de comunicação que difundem estes mitos que cercam a imaginação dos leigos. Para isto que uma sala temática sobre artes marciais prestaria um grande serviço aos frequentadores com informações suficientes para tirar dúvidas, desfazer mitos e qualquer outro preconceito relacionados as artes marciais.

Prof Wellington - Haedong Kumdo

    Por um lado, os indivíduos da cultura geek/nerd se interessa saber alguma coisa a respeito daquele estilo de arte marcial que seu personagem de videogame luta, mas ao mesmo tempo não sabe discernir o que é fantasia e o que é realidade dentro das artes marciais. Também não imaginam que qualquer indivíduo tem potencial para praticar artes marciais sem necessariamente frequentar torneios. E é este o momento certo que o instrutor de arte marcial deve estar presente nestes locais para esclarecer com os organizadores de que uma sala temática de artes marcial é relevante para a cultura oriental e também a separar o mito da realidade. Em outras palavras, uma sala temática de artes marciais vem com a proposta de aproximar a todos aqueles que curtem a cultura asiática que também está presente tanto nas artes marciais quanto na cultura geek.

 

A criação do SoAMA

   Difundir a cultura oriental através da arte marcial é o foco do projeto SoAMA – Sociedade Amigos das Artes Marciais. Um projeto sem fins lucrativos focado em:

• Apresentar uma sala temática composta por instrutores graduados em suas respectivas artes marciais, trazendo seus materiais para exposição.
• Com esse material, as pessoas podem visualizar, assistir, e fotografar; além disso, poderá conversar com os instrutores para tirar dúvidas ou compartilhar suas experiências com a pratica em artes marciais.
• Incluir curiosidades sobre artes marciais inseridas na cultura geek, como mangas, animes, tokkusatsu e seriados.
• Abordar a cultura oriental presente nas artes marciais japonesas, coreanas e chinesas com pequenas apresentações programadas, próximo ao público sem oferecer risco.
• Dicas e informações sobre como encontrar uma academia de arte marcial regularizada.
• Mostra de objetos usados em treinos de arte marcial como, replicas de armas brancas (espadas de madeira, leques, bastões, nunchakus, bengalas e tonfas).
• Mostra de material áudio visual sobre as modalidades presentes, entrevistas, eventos, documentários.

   O principal objetivo do SoAMA é, apresentar para as pessoas a verdadeira essência das artes marciais, sem ter de recorrer a mitos que soam extravagantes ou ocultos para a compreensão do público leigo. O SoAMA combate ideias equivocadas por leigos que dizem que treinar arte marcial é perigoso quanto na verdade, estimula o auto conhecimento e a auto superação; ou que a faixa preta é o principal objetivo para se tornar um mestre, quanto na verdade, a faixa preta é o verdadeiro começo de longos anos de treinamento até conquistar o título de mestre.

   A proposta apresenta um acervo de fotos, livros, vídeos, equipamentos usados em treino, cartazes de eventos internacionais, textos explicativos de cada modalidade, orientações de como praticar artes marciais com segurança, mini palestras, discernimento entre os mitos criados no cinema e os fatos reais sobre artistas marciais, curiosidades, história, etc... e como também não poderá faltar, também apresentaremos curiosidades com dicas de filmes, animes, mangas e manhwas (gibi coreano) com o tema das artes marciais.

   O SoAMA já atuou recentemente no evento Animeconnect 2.0 em Cachoeirinha e pode não apenas mostrar seus conhecimentos teóricos, como também apresentou cada uma de suas modalidades ao público, o resultado foi um sucesso! O grupo já foi chamado para comparecer em mais um próximo evento em 2015.

Curiosidades:

• Na Coreia há três grandes eventos de artes marciais: o Hanmadang promovido pela Federação Mundial de Taekwondo (WTF). O Mundial de Hapkido Marcial promovido pela Kido Federation. São eventos voltados a apresentações em grupo e quebramentos de materiais duros como tábuas e telhas. E por fim, o campeonato mundial de Haedong Kumdo voltado para demonstrações em grupos, lutas combinadas e dança com a espada, ambas disputadas por equipes mistas ou individuais.
• No Brasil, é sediado em Gramado RS o evento anual chamado FENATAE, também voltado para apresentações em equipes como no Hanmadang.
• O ator Tetsuo Narikawa que viveu o papel de “Kenji” da famosa série Spectreman era faixa preta em Karatê Shotokan, chegando a presidir a entidade japonesa. Tetsuo faleceu em 2010 vítima de câncer de próstata.
• O grão mestre Ji Han Jae que atuou ao lado de Bruce Lee no filme “O Jogo da Morte”; foi o responsável em rebatizar a arte marcial coreana que antes se chamava “Yu Sool” para “Hapkido”. Ji Han Jae, atuou no filme usando uma faixa dourada que ganhou do próprio Bruce e a mantém guardada até hoje.
• O autor de Rurouni Kenshin (Samurai X), Nobuhiro Watsuki, foi praticante de Kendo antes de se tornar manga-ka, seu amor pela modalidade e pela história japonesa inspirou todo o enredo do manga.
• Na década de 1970 haviam dois animes de artes marciais de relativo sucesso no Brasil. Um deles era “O Judoka”; o outro era Sawamu – o demolidor (Kikku no Oni), inspirado na história do “pai” do Kickboxing japonês, Tadashi Sawamura; que após sofrer uma humilhante derrota junto à principal equipe japonesa de Karatê contra a equipe de Muaythai da Tailândia. Sawamura decidiu abandonar o Karatê para se dedicar ao boxe tailandês, tornando-se um dos maiores lutadores fora da Tailândia. O famoso golpe do anime conhecido pelos fãs o “salto no vácuo com joelhada”, era a principal “arma secreta” do verdadeiro Sawamura em seus combates.
• Antes do surgimento do arcade Street Fighter (1987) e Mortal Kombat (1991). Karate Champion (1984) foi o primeiro videogame de artes marciais a utilizar golpes especiais combinando movimentos com o Joystick.
• O Manga e anime “Shijou Saikyou no Denshi Kenichi”, que apesar dos exageros da ficção, o mangá apresenta vários estilos de artes marciais conhecidas e alguns desconhecidos no ocidente como o Kalaripayatu da Índia e o Pencak Sillat da Indonésia.
• O manga “Kenji” de Ryuichi Matsuda e Yoshihide Fujiwara contém referencias interessantes sobre as escolas internas de artes marciais chinesas (Wushu); como em “Sawamu – O demolidor”, a história é também baseada em fatos reais, além disto, a trama insere verdadeiros mestres de artes marciais e até narra um fato sobre o mestre de Daito Ryuu Aiki Ju-Jutsu, Sokaku Takeda que teve como seu aluno o fundador do Aikido, Morihei Ueshiba.
• Outro manga interessante é Karate Shoukoushi Kohinata Minoru de Baba Yasushi, seu principal enredo está no Karatê, mas ao longo do enredo vão aparecendo outros estilos de artes marciais como o Taekwon-Do, Jiu-Jitsu, Kendo e Muaythai, a história apresenta também o submundo das entidades de artes marciais envolvidos em carteis de lutas de K-1, destaque para um personagem brasileiro, o paulista Pedro Barbosa que luta Jiu Jitsu e é assumidamente gay (e nem por isso deixa de ser o personagem mais divertido da trama).

    Este é o que acreditamos ser o ponto de partida sobre difusão de artes marciais em eventos “Cosplay”, queremos estar presentes não para focamos as lutas em si, mas as culturas orientais que cada modalidade incorporaram ao longo dos anos. É uma iniciativa que poderá render bons frutos como unir instrutores de diferentes artes marciais e instigar nos adolescentes o interesse de praticar artes marciais, não somente para competir como pregam os leigos, mas para sentirem mais próximos da cultura oriental, que estes mesmos frequentadores buscam descobrir nestes eventos “Cosplay”.

   O autor é faixa preta em Taekwondo desde 1997, faixa preta em Haedong Kumdo (espada coreana) e vice presidente da Confederação Brasileira de Haedong Kumdo. Há 3 anos clama pela realização do SoAMA em eventos Cosplay.

Fotos: Roundhouse Click.